quinta-feira, 12 de maio de 2016

Ditadura, Judiciário & Poder do Estado.


    Nenhuma forma de ditadura deve ser louvada, porém o contragolpe de 1964 com o Sr. Humberto Alencar Castelo Branco, que governou até 1967 quando veio a falecer, teve nomes à frente do seu governo, como Roberto Campos, que fizeram um verdadeiro reajuste das contas e durante cujo governo não ocorreram perseguições. Os incomodados optaram pelo autoexílio, no governo do então Artur da Costa e Silva de 1967 até 1969, quando ocorreu o AI-5 e se iniciaram não somente perseguições, como prisões aos contrários ao regime. O maior culpado em uma ditadura são sempre os seus indivíduos, que optaram por escolhas morais duvidosas, mas sem um ESTADO forte e onipresente, existiriam ditaduras?

    Ao contrário do que se pensa, o contragolpe de 64 foi bem mais uma voz popular com o descontrole e medidas de Gulart. Muitos dos que apoiaram a sua saída e as suas medidas não eram a favor de uma ditadura. Assim como hoje, a polaridade da sociedade é uma criação, as pessoas querem as mesmas medidas pelos mais diferentes objetivos. Mesmo dentro da corporação militar existiam e existem vários oficiais com pensamento de cunho esquerdista. Hoje, no Piauí, temos exemplos claros e livros sobre o assunto.




  A década de 70 é um período sombrio da nossa historia. É uma ditadura velada e envergonhada. Temos ditadores explicando a organizações internacionais que isto ou aquilo é mentira. Presidente Figueiredo citava democracia de nove a cada dez palavras em seus discursos, ao contrário do Chile, que fez um campo de concentração a céu aberto com filmagens, e da Argentina que teve seis golpes de Estado só no século XX. Se perguntarem à maioria dos brasileiros da época qual a pior lembrança da década de 70, uma grande maioria responderá: Brasil vs Holanda na copa de 74.







  Dentre os horrores do mundo, com as ditaduras socialistas e os milhões de corpos confirmados na U.R.S.S, Vietnã e África, tínhamos uma juventude que, por vivermos em uma ditadura, se focou nos mortos pelo capitalismo e na ideia de que os EUA são o câncer do mundo. O grande legado da ditadura brasileira, em termos de noção de educação, foi o fato de que vivíamos em uma ditadura. As outras que desconhecíamos poderiam ser melhores. Aquela síndrome de que a grama do vizinho é sempre mais verde, quando na verdade é mais vermelha de sangue.



   Sem relativismos morais, minha preocupação é o relativismo com a vida. Uma parte desses jornalistas que reafirmam uma revolta sobre a ditadura na verdade comandam uma revolta em causa própria e não pela ausência de liberdade. Temos presos políticos na Venezuela e pessoas em Cuba que nunca tiveram o direito a um julgamento. Ao tentar apontar as injustiças contra esses dois regimes, automaticamente se é chamado de imperialista. Como proceder em uma sociedade que escolhe quem deve ou não viver pelas causas que apoia? Já escutei de pessoas da área do direito que os fuzilados na Revolução Cubana na época eram inimigos da revolução. Já escutei com palavras mais bonitas e eufemismos de gente esclarecida em programas televisivos.



 Temos 500 mortos/desaparecidos em um regime financiado pelo poder do Estado, que institucionalizou a violência como meio para conseguir um fim, o controle. As pessoas, frente à opressão das instituições, ao pensarem que existe um enorme erro no poder como um todo, movidas por um sentimento de vingança e não de justiça, almejaram a qualquer custo ficar à frente da máquina de guerra chamada Estado. Ao invés de pensarmos que poderia não ter morrido ninguém caso o Estado não tivesse tanto poder, poderíamos evitar isso ocorrer dando menos poder ao monstro, não o alimentando.








  Baseado nesse último pensamento, uma parte da Constituição de 88 é diferente dos modelos mais conhecidos na Europa e ainda mais abrangente do que a americana, por dar enorme poder à primeira instância. Por esse motivo, e evitando que governantes sejam deuses, hoje temos um juiz que desafiou o poder de um partido. Não sei os seus motivos ou se é o herói, guerreiro do povo brasileiro, mas a verdade é que, sem Ministério Publico, sem força independente e sem uma justiça desvinculada do Estado, não estaríamos hoje assistindo a um partido cair por seus crimes. O que me espanta é assistir à mesma parcela da população que se diz contra ditaduras fortalecer um governo acima das leis, ao invés de pensar que daremos voz aos sucessores do PT de que ninguém está acima de tudo por estar frente ao Estado.


   Quando penso que os ministros do STF serem nomeados e indicados pela presidência da Republica é um erro, vejo que este é o motivo pelo qual a nossa SUPREMA CORTE é tão desacreditada pelas massas e opositores. Quanto mais poder aos governantes e menos força às instituições que o fiscalizam, criamos sistemas não somente mais aptos à corrupção, mas também a torturas e crimes. Vocês acreditam que um advogado tem maior importância nos EUA ou no Brasil da década de 70? Advogados eram proibidos de abrir inquéritos, tal qual hoje pessoas querem proibir juízes e terceiros de exporem certos assuntos que dizem respeito aos seus governantes.



   Quando falamos em diminuir a força do Estado, não estamos preocupados apenas com a melhoria econômica, falamos também em evitar ditaduras, sejam elas de direita ou de esquerda. Acredite, o Estado é uma máquina que pode beneficiar ou perseguir. Imagina que mundo mágico, um politico ser julgado pelo que fez e não ter que responder como bem quer pelo cargo que exerce?

Nenhum comentário:

Postar um comentário