quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O tempo destrói tudo, até o sonho socialista



"Um homem que não seja um socialista aos 20 anos não tem coração. Um homem que ainda seja um socialista aos 40 não tem cabeça." 


Georges Benjamin Clemenceau (1841-1929) 




 Quem não lembra daquela clássica foto em que o então presidente Venezuelano, Hugo Chavez, deu de presente o livro “As Veias Abertas da América Latina” para o presidente dos EUA, Barack Obama? O livro do escritor uruguaio Eduardo Galeano(1940-2015) é indicado aos quatro ventos pela esquerda latino-americana aos jovens, por gerações e mais gerações. Mas o que existe de errado com o livro? 



Eduardo Galeano afirmou no aniversário em homenagem de 43 anos do lançamento do livro que não concordava com o direcionamento do próprio livro, e em declaração afirmou: “Veias Abertas pretendia ser um livro de economia política, mas eu não tinha o treinamento e o preparo necessário". Ele acrescentou: "eu não seria capaz de reler esse livro; cairia dormindo. Para mim, essa prosa da esquerda tradicional é extremamente árida, e meu físico já não a tolera."



Tal afirmação e posicionamento é um enorme choque aos militantes de esquerda, atuais e antigos. Imaginem a gama de profissionais do ensino que o elevaram a nível de “obra-prima” por anos e anos? A afirmação de Galeano causou decepção em nomes como Isabelle Allender, que escreveu texto introdutório numa das edições recentes do livro. Todo o frenesi sobre a causa da “pátria grande” latino-americana, por algum milagre indecoroso, nunca conseguiu ser o grande baluarte da educação, economia e prosperidade, como chegou a imaginar Galeano. 



Hoje a esquerda especializou-se em culpar causas externas, como colonialismo, e o “imperialismo” de todas as grandes potências. Terá ele notado a tempo? É bem verdade que Galeno escreveu o livro em um período de pós-juventude, onde os sonhos são mais importantes do que a racionalidade na busca das reais causas dos nossos fracassos continentais. Não é de hoje que tentam os revolucionários construir esse sonho que nunca se consolidou, devido, segundo a esquerda, às “forças estrangeiras”. 



Segundo a teoria do historiador romântico e nacionalista paraguaio Juan Emiliano O'Leary (1879-1969), acredita-se, por exemplo, que a “Última Guerra do Prata” foi causada por influência da Inglaterra! Para a enigmática teoria conspiratória, Brasil, Uruguai e Argentina guerrearam contra o tirano paraguaio Solano Lopez. “É culpa do imperialismo”, dizem. 



Galeano conviveu bastante com o peruano Mário Vargas Llosa(1936), renomado escritor de clássicos da literatura latina, como “Guerra do Fim do Mundo”(1981). Ele comenta a Guerra de Canudos, e dedica a obra a Euclides Cunha(1866-1909). Vargas Llosa também era um ex-simpatizante da esquerda latina, e chegou a flertar com o governo de Fidel Castro. Porém, após o apoio de Fidel à invasão da U.R.S.S na Tchecoslovaquia (“Primavera de Praga”-1968), Vargas Llosa passou a afastar-se dos movimentos de esquerda, e atualmente declara-se ativista da Liberdade na América Latina. A história do conhecimento sempre apresenta vários pensadores, que em determinado momento de suas vidas, tornaram-se mais ou menos conservadores ou liberais. Alguns, mesmo diante das atrocidades de seus antigos ideais, não tiveram hombridade o suficiente, como o caso de György Lukács(1885-1971) e outros imponentes intelectuais da esquerda. Não obstante, viram o seu mundo ao chão com o lançamento do livro “Arquipélago Gulag”(1973), escrito por Alexander Soljenítsin(1918-2008), prisioneiro em campos de trabalho forçados na U.R.S.S, e o primeiro a fazer denuncias sobre as condições aterrorizadoras dos Gulags socialistas. Seguindo as denúncias, escreveu também “Um dia na vida de Ivan Denisovich” (1962). 



É necessário lembra do escritor polonês Leszek Kolalowski(1927-2009). Ávido marxista em boa parte da sua vida, escreveu posteriormente uma extensa obra de 1.200 páginas na qual critica o marxismo em três volumes intitulados “As Principais Correntes do Marxismo”(1976). Ele leu em Jonh Locke(1632-1704) as bases do liberalismo moderno, e não poupou críticas a "Crítica da razão dialética"(1960), de Jean-Paul Sartre(1906-1980) e ao marxismo campesino do maoismo na China, bem como ao Comunismo que devastou os países do leste da Europa. 



E os nossos escritores brasileiros? Poderíamos começar não somente com Graciliano Ramos (1892-1953), que chegou a filiar-se ao Partido Comunista, e logo depois se afastou. Jorge Amado(1912-2001), um dos maiores best-sellers da literatura brasileira, ao assistir o fim da U.R.S.S pela televisão, viu a realidade do fim do socialismo real, e um mundo de crenças desmoronou junto ao muro de Berlin, ao descobrir que Stalin não era o pai dos pobres como imaginava. Para o nosso ex-deputado do Partido Comunista, o mundo cruel e as verdades expostas pelo governo de Mikhail Gorbachev (1931) foram cruciais à derrocada do sonho.



E quanto ao poeta Ferreira Gullar (1930)? Em um passado não tão distante, cantou alegorias à revolução e comentou “a beleza da moça é tão bela quanto a revolução cubana”; hoje considera o socialismo uma utopia e o capitalismo uma força invencível. Nas palavras do poeta Ferreira Gullar, sobre a insistência em ser socialista no mundo moderno, diz: - “Quando ser de esquerda dava cadeia, ninguém era. Agora que dá prêmio, todo mundo é”. Nada melhor do que o tempo. O grande problema de lutar por utopia e contra o capitalismo é tentar construir um sistema baseado em sonhos cuja aplicação só gera miséria e tragédias, enquanto a tal “força do capitalismo” é apenas um sistema econômico natural, não um sonho. 



A realidade é sempre mais prática do que qualquer romance. As “veias” da América Latina precisam de oxigênio, de mais liberdade. Você não precisa chegar aos 70 anos para enfim perceber o inevitável. 




Por: Pedrus S. Paz

Um comentário:

  1. Mt bom o texto! Brasil ta cada dia mais sufocado, espero que o povo acorde enquanto é tempo.

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