O
jornalista piauiense William Tito, no site “políticadinâmica.com”, escreveu um
artigo longo de nome "Um mundo de Párias e Apátridas" a respeito da crise dos refugiados na Europa, que faz um retrato amplo da situação, porém romantizado e equivocado quanto à essência do problema.
Em seu texto, ele imagina que se trata de um problema exclusivamente
humanitário, em que indivíduos desesperados com a guerra,miséria e com os horrores dos
radicais religiosos estariam numa jornada heroica em busca da felicidade. E nisso, Tito não difere da maior parte da
grande mídia sobre o assunto. Diz ele que, em nome de “ser feliz”,
o refugiado “é capaz de vestir-se de coragem a ponto de enfrentar o mar em um
barquinho.”
Mais de 100 mil mortes, crianças náufragas e milhões de miseráveis em fuga acendem o sentimento de
revolta e compaixão em qualquer pessoa minimamente civilizada. Mas, diante da emoção
natural manifestada frente à desoladora tragédia, Wiliam Tito acaba distorcendo
os fatos, talvez inconscientemente, ou para se manter adequado ao discurso politicamente correto do humanitarismo - que adverte contra o risco de "pensar fora da caixa".
Então vamos sair da embalagem. Infelizmente, no caso dos refugiados sírios, o bom-mocismo não lança luzes sobre os fatos. Tito generaliza as razões dos deslocamentos migratórios africanos e asiáticos,
ao afirmar que os atuais refugiados sírios são “os que não se conformam com a
miséria, perseguição política, fundamentalismo religioso (...)” e que
por isso “lançam-se em condições extremas para realizar seus sonhos."Segundo ele, "sempre foi assim e assim será.” Na verdade, não é bem assim. Longe disso. Não se
pode jogar num mesmo balaio centenas de fenômenos migratórios
distintos, e o caso sírio-islâmico (assim como muitos outros) tem inúmeras
peculiaridades, que fazem toda a diferença para se entender o que estaria
afinal acontecendo.
Uma destas
“peculiaridades” que o jornalista deixou de comentar é que, dentre os refugiados, não estão apenas os que “não se
conformam com perseguição e jihad”, mas também os próprios perseguidores e jihadistas. Mais de 4.000 soldados do Estado Islâmico adentraram na Europa disfarçados de refugiados, segundo o jornal inglês Sunday Express. O jornal DailyMail já havia noticiado a ameaça que chegou às mãos do Ministro italiano Angelino Alfano, feita pela cúpula do terrorismo islâmico, de
enviar mais de 500.000 exilados de seu próprio povo para a Europa, como arma de coação psicológica. Nas
palavras do ministro, "Se as milícias do
Califado avançam mais depressa que as decisões da comunidade internacional,
arriscamo-nos a um êxodo sem precedentes". Isto é: existem pessoas sendo
EXPULSAS de seus países árabes pelos terroristas, para forçar o constrangimento
humanitário internacional. E há muitos lucrando com isto.
William Tito fala do tema como se todos os imigrantes fossem refugiados. Isto não é correto. Existem 3 tipos de imigrantes compondo
as tramas desta tragédia: 1.os refugiados, que partem por medo da guerra; 2. os
exilados, indivíduos expulsos ou banidos por algum motivo, os mais pérfidos
possíveis; e 3. os infiltrados, estrategistas islâmicos que simulam exílio para
fins de ocupação na Europa. Como de praxe na história dos conflitos no oriente
médio, os jihadistas islâmicos usam da boa-fé de muitos ocidentais e do
sofrimento do próprio povo para barganhar interesses, insuflando (não sozinhos)
uma tragédia entre inocentes para darem vazão ao seu delírio do
califado mundial.
Mas por que o Estado Islâmico estaria usando deste instrumento migratório como arma
política?
Em geopolítica, usar a imigração como estratégia de poder não é um dado novo.
Na disputa entre Berlim oriental e ocidental, Nikita Khrushchev aplicou a
tática incansavelmente. O ex-agente de Moscou, Ion Mihai Pacepa, um dos maiores especialistas em serviços de inteligência do mundo, explica:
“Após a morte de Stálin, sua teoria “imutável” para a revolução mundial
proletária foi substituída pela “estrada parlamentarista para o poder” de
Khrushchev. Insurgências comunistas caíram em desuso. Imigração em massa – de
propagandistas do bloco soviético – entrou em voga. E funcionou. Em meados de
1950, em torno de 30 milhões de pessoas na Europa Ocidental estavam votando na
opção do Partido Comunista. O comunismo não foi imposto a eles pela força, como
havia sido feito na Europa Oriental, porém esta não é toda a história. Nossa
conspiração envolvendo a imigração em massa, apoiada por numerosas organizações
de imigrantes que nós financiávamos no Ocidente, foi tão bem sucedida que nós
começamos até mesmo a vender para países capitalistas alguns dos nossos
próprios cidadãos em troca de moeda forte.”
Essa “negociação” de cidadãos está registrada no famoso documentário do History
Channel, “Construção e Queda do Muro de Berlim”. Prossegue explicando Pacepa:
“Moscou acreditava que um afluxo massivo de imigrantes oriundos do bloco
soviético iria não apenas espalhar os milagres do socialismo para a Alemanha
Ocidental, mas que também afogaria
a burocracia governamental, encurralaria o tesouro nacional, provocando o caos
econômico e influenciaria os alemães ocidentais a votar pela opção socialista.
(...) não conseguiu transformar a Alemanha Ocidental num país socialista, mas
não foi por falta de tentativas. Durante o restante do meu tempo na Romênia, a
Alemanha Ocidental foi inundada com imigrantes oriundos do bloco soviético.
(...)
Depois de desertar, expus num memorando para o presidente Carter a
respeito da ofensiva antiamericana por meio da imigração em massa – ele escreveu
no memorando “tudo isso é novo para mim” – e no meu livro “Red Horizons” que o
lema era Gutta cavat lapidem,
non vi sed saepe cadendo (Uma
gota d'água faz um furo na rocha não pela força, mas pelo gotejar contínuo).
(...) a imigração em massa deveria fazer a Europa Ocidental e Israel passar
para o nosso lado: gota, após gota, após gota. Necessitaria de algum tempo,
porém, quando você não pode utilizar uma furadeira, aquela é a melhor maneira
de fazer um buraco.”
No caso do islam radical, uma vez feita a ocupação, inicia-se o processo de isolamento em guetos, para
finalmente eclodir em secessão, e construção de um estado independente islâmico
no seio da Europa. Os guetos islâmicos já são uma realidade na França, e
transitar por lá foi considerado tão perigoso para os ocidentais que o estado francês
denominou estas áreas de “no-go zones” (“zonas perigosas”, ou “zonas para não
ir” - vídeo no link). Desde 2010, cerca
de 13 milhões de muçulmanos migraram para 27 países da União Europeia.
A percentagem de imigrantes muçulmanos entre os estrangeiros chega a 39%.
William Tito forneceu alguns números desta que é a maior crise de refugiados da
modernidade. Vamos agora avaliar os números sobre o quão a estratégia
migratória está sendo eficiente para a ocupação islâmica:
“A
parcela de muçulmanos da população da Europa tem crescido em cerca de 1 ponto
percentual por década nos últimos 25 anos, passando de 4% em 1990 para 6%
em 2010. O número de muçulmanos na Europa
cresceu de 29,6 milhões em 1990 para 44,1 milhões em 2010. A
população muçulmana da Europa deverá ser superior a 58 milhões em 2030. Enquanto os muçulmanos
representam hoje cerca de 6% da população total da Europa, em 2030, espera-se
que os muçulmanos cheguem a 8% da população da Europa, ou o
dobro do que era em 1990. Percentualmente,
o país mais muçulmano da União Europeia é Chipre, com mais de um quarto da
população total (25,3%), seguido pela Bulgária com 13,7% da população. O
país com a maior projeção de crescimento de sua população muçulmana é o Reino
Unido, que deverá ter uma população muçulmana de 5,5 milhões em
2030. Os dados de 2010 revelam que a idade média dos muçulmanos na Europa
era de 32 anos de idade, enquanto a idade média dos europeus, em
geral, era de 40 anos de idade, uma lacuna de oito anos. A
idade média dos cristãos na Europa era dez anos mais elevada do que a dos muçulmanos,
ou seja, 42 anos de idade. O estudo do Instituto de Pesquisas Pew analisou as tendências atuais nos 25
países europeus para os quais há dados disponíveis e descobriu que a mulher
muçulmana de hoje tem uma média de 2,2 filhos, em comparação com uma média
estimada de 1,5 filhos da mulher não-muçulmana, na Europa.”
John Locke, o pai do liberalismo, já recomendava a separação entre estado e religião para que a democracia e a própria liberdade religiosa fossem possíveis. A Shariah é o exato oposto disso: criminaliza qualquer estado não-islâmico.É muito estranho também que William Tito, em momento algum, use a palavra “islamismo”
ou “islamismo radical” no seu texto, como se quisesse subtrair um fato
essencial: o de que a versão moderna do islamismo radical foi teorizada pelo
ideólogo da “Irmandade Muçulmana”, Sayyid Qtub. Qtub aliou o islam mais
dogmático às estratégias do marxismo-leninista para, segundo suas próprias
palavras, “mudar a sociedade da base ao topo, impondo valores islâmicos em
todos os aspectos da vida, através da aplicação rigorosa da ‘Shariah’ – menos
que isto não era islão”. Qtub não se preocupava com os "apátridas", porque não acreditava em pátria. Para ele, a única pátria possível seria o mundo completamente islamizado, e subjugado às leis corânicas. A obra extremamente radical de Qtub, “Maalim fi
al-Tariq” (“Milestones”), é, depois do Corão, o maior fenômeno editorial da
história do mundo islâmico.
Ora, como uma obra tão vastamente consumida poderia não deixar marcas profundas
numa cultura? É impossível analisar a questão da migração sírio-islâmica com
seriedade sem levar em conta a fundação das bases teóricas do islam radical, e
sem observar que deslocamentos de massas são fenômenos geopolíticos, que
envolvem os bastidores daqueles que detém o poder. Decerto que
muitos islâmicos convivem pacificamente e respeitam as leis do Estado, mas este
vídeo dá uma ideia de como está o clima entre ocidentais e islâmicos na Europa:
Parece filme de ficção. E ainda na trilha do bom-mocismo, Tito afirma que
“o choque cultural e a adaptação às leis vigentes de outras nações [europeias]
podem fomentar crimes e alterar o cotidiano das pessoas.” É de se estranhar, já
que muitos islâmicos praticam a Sharia pregada por Qtub, isto é, seguem as leis do Corão acima da legislação laica
da pátria que os abriga. As palavras de Tito parecem sugerir que, se um
refugiado comete um crime na Europa, a principal razão seria o “choque
cultural”, que serviria como uma espécie de atenuante da
responsabilidade pessoal. Nas palavras dele, “independente da boa-vontade de
adaptação” do islâmico, eles poderiam ser “induzidos” ao crime devido ao “estranhamento
cultural”. Sabe como é. A culpa é sempre dos ocidentais. Infelizmente, vimos esta “boa vontade” de muitos no vídeo acima.
O jornalista, não satisfeito, dispara ainda que “os europeus sempre criaram grandes resistências em se misturarem etnicamente e culturalmente”. Ou
seja: para William Tito, a culpa do choque cultural com os refugiados
majoritariamente islâmicos passa a ser do...... Europeu! Uma verdadeira façanha de inversão da realidade.
O jornalista piauiense conclui que seria “sandice pensar que o
mundo vai mudar suas razões que estabelecem as linhas de fronteira e suas
políticas de imigração”. Mas, ao contrário, a falta de
compaixão não é o motivo pelo qual a Europa restringe a abertura de suas
fronteiras aos imigrantes árabes. Trata-se de uma questão de evidente prevenção contra
episódios como o “Charlie Hebdo”; trata-se de uma Europa receosa depois dos atentados, e que se vê constrangida a tolerar entre si
alguns intolerantes radicais. A favor da migração, sempre, mas a que custo? Como lembra Christopher Caldwell, em "Reflexões sobre a Revolução na Europa" (2009), “quando uma
cultura insegura, maleável e relativista encontra uma cultura que é ancorada,
confiante e fortalecida por doutrinas comuns, é geralmente a primeira que se
adapta a última”. Os Europeus confiavam tanto que podiam ocidentalizar os islâmicos, mas viram que a receita da Turquia não iria se repetir sempre - e nem podia, pois são outras as circunstâncias.
A Europa que aprendeu a cultuar o multiculturalismo é hoje uma presa do
fundamentalismo islâmico, afinal, são os
tolerantes que tendem a ceder progressivamente de seus próprios traços
culturais, em nome da “boa convivência” e dos bons costumes com a alteridade;
enquanto isso, a forte aversão dos muçulmanos em assimilar a cultura de suas
novas pátrias segue vencendo. Imigrantes
muçulmanos (e neste caso, não só os radicais) não tentam apenas conviver com a cultura
europeia, mas suplantá-la se possível. A tragédia dos refugiados e a ocupação
islâmica proposital da Europa são dois fenômenos diferentes, que acontecem de
modo simultâneo num mesmo evento - e não será possível perceber essa
ambiguidade se focado somente no verniz da mídia brasileira. Os olhos do politicamente
correto só enxergam aquilo que o paladar da opinião pública degusta: atraentes
meias-verdades.
Por: Prof. Matos
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